Belém, Pará – O ponto alto da Cúpula dos Povos, realizada em Belém, se deu neste sábado, 15 de novembro, com a Marcha Global pelo Clima, um imponente e numeroso ato que mobilizou uma estimativa de mais de 50 mil pessoas nas ruas da capital paraense. Lideranças indígenas, quilombolas e de povos tradicionais do Amapá e do Norte do Pará estiveram na linha de frente, partindo do Mercado de São Brás, para reforçar uma mensagem clara: as soluções para a crise climática devem ser forjadas com e pelo conhecimento de quem vive e protege a floresta diariamente.
As principais reivindicações da marcha convergiram para a necessidade urgente de incluir os povos tradicionais no centro das discussões e garantir que o enfrentamento da emergência climática seja embasado em seus saberes ancestrais.
“A Nossa Voz é a Nossa Luta”
Representando a força dos povos indígenas, Luene Karipuna, coordenadora executiva da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Amapá e Norte do Pará (APOIANP), destacou o papel essencial dos povos originários como guardiões da biodiversidade. “Essa marcha representa a força dos povos do território, aqueles que protegem diariamente as árvores, a biodiversidade e que são parte da natureza. Nós estamos com uma diversidade de povos e esses povos precisam ser ouvidos, eles precisam ser considerados nos processos de diálogo sobre o debate climático”, afirmou Karipuna.
Ela foi enfática ao exigir a inclusão plena dos indígenas no diálogo climático: “O debate climático não pode deixar os povos indígenas fora dessa discussão. Os nossos conhecimentos tradicionais, a nossa territorialidade, a força do nosso território precisa ser considerado quando o debate é soluções às crises climáticas. Por isso que essa marcha aqui é a maior força que essa COP vai ver, porque a nossa voz é a nossa luta, é o nosso território e a resposta somos nós”.
Quilombolas Cobram Titulação e Investimento Direto
A pauta quilombola ressoou com a urgência de quem está na ponta dos impactos e da preservação. Joelma Menezes, liderança do Quilombo do Rosa, no Amapá, lembrou que a proteção da floresta é um trabalho contínuo das comunidades.
“Nós que cuidamos da floresta, estamos daqui caminhando, cobrando que os financiamentos sejam investidos nas comunidades quilombolas, porque a gente tá lá na ponta e nós que estamos sendo afetados [pela crise climática]”, disse Menezes, destacando a necessidade de os recursos chegarem a quem realmente preserva.
A líder quilombola fez um apelo para que o olhar da COP30 e a proposta de financiamento se volte para o básico: a segurança territorial. “Que esses [financiamentos] não sejam um programa apenas para os grandes, mas que chegam na ponta. Somos nós que cuidamos da Amazônia, que preservamos a floresta. A gente usa, mas consciente. E a gente aqui também está para cobrar a titulação dos nossos territórios, que também é importante. Não há segurança alimentar, não há segurança territorial sem titulação”.
O Mundo “Doente” e a Necessidade de Manter a Floresta em Pé
A voz de Viseni Waiãpi, do Conselho das Aldeias Wajãpi (Apina), se somou ao coro, trazendo a perspectiva da união para o enfrentamento global.
“Estamos aqui presente na Marcha Global junto com os povos do Amapá e Norte do Pará para discutir sobre a mudança climática, pois o mundo está doente. Vamos discutir, vamos nos reunir com o mundo. Coletivamente, podemos manter a floresta em pé,” declarou Waiãpi, reforçando a visão de que a solução passa pela união global em torno da preservação.
A Marcha Global pelo Clima serviu como um poderoso lembrete aos líderes mundiais reunidos em Belém: a Amazônia e suas riquezas naturais e culturais são inseparáveis, e a chave para a sustentabilidade reside no reconhecimento e apoio aos seus povos originários.
