“VALOR DE BAIXO CUSTO”: PRESIDENTE DA FAPEAP DEFENDE NAVIO DE R$ 1,88 MILHÃO ALUGADO PELO GOVERNO DO AMAPÁ PARA A COP30

Coordenador executivo da participação do estado na conferência, o diretor-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amapá (Fapeap), Gutemberg […]

Coordenador executivo da participação do estado na conferência, o diretor-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amapá (Fapeap), Gutemberg Vilhena – Foto Agencia Amapá. 

Belém (PA) — O governo do Amapá levou à COP30 uma das maiores comitivas presentes no evento. Segundo o próprio coordenador executivo da participação do estado na conferência, o diretor-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amapá (Fapeap), Gutemberg Vilhena, cerca de 400 pessoas devem embarcar ao longo das semanas da COP, incluindo representantes indígenas, quilombolas, startups e equipes técnicas. Mas a dimensão da delegação é apenas parte da história: o deslocamento e hospedagem desta estrutura foram feitos por meio de um navio alugado por R$ 1.880.000,00, pago com recursos da fundação que, em tese, deveria fomentar ciência, inovação e pesquisa.

O valor, dividido em dois pagamentos — R$ 1,25 milhão em setembro e R$ 630 mil em outubro — foi autorizado pela Fapeap em processo emergencial. O contrato inclui não apenas o transporte de pessoas, mas também vans, carros e equipamentos, já que a embarcação também funciona como hospedagem flutuante e base logística da comitiva.

Barco trouxe quase 118 pessoas à COP – Foto Agencia Amapá. 

Durante uma conversa no estande oficial do Amapá, Gutemberg defendeu o gasto afirmando que o preço da COP30, em Belém, tornou inviável qualquer outra forma de estadia. Ele repetiu várias vezes que a cidade estaria “10 vezes mais cara que todas as COPs anteriores”.

“Os preços de hospedagem e alimentação estavam mais para dificultar a participação do que para permitir”, disse. “Se você colocar o cálculo médio de hospedagem, alimentação e o valor que estava sendo cobrado por embarcações desse porte, esse valor foi até um valor de baixo custo”, afirmou. Em outro momento, reforçou: “Se você ver nos veículos, em média 5, 6 mil reais por dia. Se você tomar isso por 21 dias e colocar alimentação… aí você vê que esse valor aqui tá até baixo.”

O presidente da Fapeap também explicou que o navio foi pensado para garantir presença ampliada do estado na conferência. “No início eram 400 pessoas só no papel. Vieram 118 agora, mais umas 100 que já estavam aqui. E vem mais na semana que vem”, disse. Segundo ele, já há pessoas que pediram para retornar ao Amapá no mesmo barco.

A justificativa oficial do contrato detalha que o valor inclui aluguel da embarcação, acomodações, transporte de passageiros e veículos, equipe técnica, manutenção, seguros, combustível, alimentação e todos os encargos operacionais. Mas, mesmo com esses itens, o gasto chama atenção pela magnitude — especialmente considerando que ele foi bancado pela fundação estadual responsável, historicamente, por financiar pesquisas científicas, bolsas acadêmicas e projetos de inovação em comunidades e universidades.

Embarcação também funciona como hospedagem flutuante e base logística da comitiva. Foto GEAP 

Enquanto Gutemberg defendia o custo como “baixo”, a contradição se tornava evidente dentro do próprio estande do Amapá, onde startups apresentavam tecnologias ambientais de baixo custo para tratar lixo plástico e produzir biomateriais. Entre discursos sobre inovação e sustentabilidade, o estado destinou milhões para uma logística fluvial emergencial — uma escolha que revela prioridades e pressões políticas dentro da disputa por visibilidade na COP30.

Gutemberg diz esperar que a presença massiva do Amapá em Belém “reforce a imagem de sustentabilidade” do estado e gere negócios. Em suas palavras: “Todos os dias as duas salas são ocupadas para fechar negócio. Ao final, a gente vai aferir o que foi gerado de lucro, investimento e projeção.”

Até lá, permanece a pergunta: qual o verdadeiro custo — político, ambiental e financeiro — de financiar uma comitiva de centenas de pessoas em um navio milionário enquanto políticas públicas, pesquisas ambientais e iniciativas comunitárias seguem subfinanciadas dentro do próprio Amapá?

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