Indígenas Destacam Papel Da Comunicação E Da Imprensa Na Resistência À Criminalização De Movimentos No Pará

Comunicação Indígena é Arma Estratégica Contra Desinformação e na Luta por Direitos, Destacam Lideranças na COP30

Belém (PA) — Durante a mesa “A importância social para ampliação da atuação da DPU nas emendas das comunidades indígenas e tradicionais”, realizada nesta segunda (11) na COP30, lideranças indígenas e jornalistas destacaram o papel da comunicação como ferramenta estratégica na luta pelos direitos dos povos originários e na resistência contra a desinformação.

O debate reuniu Auricélia Arapiun, liderança dos povos Tapajós e Arapiuns; Miriam Tembé, liderança do povo Tembé; Adriano Eilkson, jornalista independente; e Coral Kariri, da comunicação da Defensoria Pública da União (DPU). O encontro discutiu a importância de fortalecer a atuação da DPU junto às comunidades indígenas e tradicionais, especialmente diante de tentativas de criminalização de manifestações legítimas e de retrocessos em políticas públicas.

Auricélia Arapiun relembrou a ocupação da Secretaria de Educação do Pará (Seduc), em 2025, quando lideranças e jovens comunicadores indígenas denunciaram o projeto de lei estadual 10.820/2024 — considerado por eles uma tentativa de legalizar a exploração de territórios indígenas sem consulta prévia. “A imprensa comercial não cumpriu seu papel. Quando conseguimos mostrar de forma clara o que estava acontecendo, com ajuda dos povos e professores indígenas, o governo teve que recuar”, afirmou.

Mesa organizada pela DPU reuniu indígenas e comunicadores. Foto Myke Sena/DPU.

Mesa organizada pela DPU reuniu indígenas e comunicadores. Foto Myke Sena/DPU.

Ela contou que, durante a ocupação, o grupo enfrentou cortes de energia, repressão policial e tentativas de censura, inclusive com a proibição de entrada de jornalistas. “O sindicato dos jornalistas precisou acionar a Justiça para garantir o direito de cobertura”, lembrou. Segundo ela, a comunicação indígena foi essencial para romper o bloqueio midiático e conquistar apoio popular: “A gente venceu a guerra de narrativas. Mostramos que o governador não é dono do Pará, nem da verdade”.

Para Auricélia, o fortalecimento das redes de comunicadores indígenas, como as da APIB e da COIAB, foi fundamental para enfrentar a desinformação e dar visibilidade às pautas dos povos originários. “Os jovens comunicadores da Seduc já vinham sendo formados dentro da nossa organização. Eles mostraram que comunicar, hoje, é também um ato de coragem”, destacou.

O jornalista Adriano Eilkson falou sobre a importância do tema. Myke Sena/DPU.

Durante o evento, Adriano Eilkson ressaltou a importância de jornalistas e comunicadores populares no enfrentamento à autocensura e na defesa das populações historicamente marginalizadas. “A gente vive numa democracia, mas muitas vezes se autocensura por medo. Quando vemos pessoas como Auricélia, com essa coragem, isso nos inspira a continuar lutando com as ferramentas que temos”, disse.

Auricélia finalizou lembrando que a luta indígena se faz também pela palavra. “Antes, a nossa história era contada pelos outros. Agora, a gente demarca também as telas e as redes sociais, com as nossas vozes e identidades. Quando a história é contada por nós, ela tem outra verdade, outra força.”

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